Semana Santa em Salamanca


A Semana Santa, declarada como Interesse Turístico Internacional,  é festejada um pouco por toda a Espanha. Fomos até à cidade universitária de  Salamanca conhecer como os seus habitantes vivem esta festividade religiosa.

As comemorações da Semana Santa em Espanha serão das que mais se identificam com identidade, a tradição e a cultura do povo espanhol. Desde que as cidades tenham as chamadas confradías (irmandades religiosas), organizam as procissões e desfiles dos passos: passagens bíblicas que retratam a paixão, morte e a ressurreição de  Jesus Cristo. Nas catedrais e nas várias igrejas, enfeitam-se com as melhores flores e os melhores linhos os andores que serão carregados por homens vestindo os trajes da penitência.
A chegada à cidade do conhecimento deve ser o mais cedo possível e deverão procurar um parque de estacionamento para deixar o carro. Nestes dias há muito policiamento nas ruas, por isso se ficar mal estacionado, há sérias probabilidades de ser rebocado.
Apressamo-nos a ir visitar algumas igrejas porque sabemos que dentro de pouco tempo irão encerrar. Começamos por entrar no Convento das Dueñas, outrora um palácio, onde se podem ver três estilos arquitectónicos: mourisco, renascentista e mudéjar. A nossa próxima paragem é na Igreja e Convento de San Esteban, cuja construção foi iniciada no século XVI, pensada por Juan de Alava. Cristóvão Colombo, antes da sua primeira viagem à América, esteve neste convento para os monges e os professores da Universidade de Salamanca intercederem junto de Isabel, a Católica, de que seria possível chegar à Índia navegando para Ocidente.

Igreja e Convento de San Esteban; Semana Santa em Salamanca
Passando a fachada, em estilo plateresco, entramos na Igreja, com planta em cruz latina de uma só nave. Os andores chamam logo a atenção pelo cuidado com que foram arranjados. Estão expostas as imagens da Virgen de la Esperanza e N. P. Jesús de la Pasión. A procissão costuma sair na madrugada da Sexta-feira Santa.

Igreja e Convento de San Esteban; Semana Santa em Salamanca
É ainda possível, pagando bilhete, ver a sacristia, o coro, o claustro dos Reis e ter uma visão privilegiada sobre o altar principal. Somos informados que temos de sair porque o convento irá encerrar. Apressamo-nos a chegar às Catedrais, onde existe um pequeno miradouro com um jardim, que permite uma vista mais alargada da cidade.

Catedral de Salamanca; Semana Santa em Salamanca
A Catedral Nova demorou dois séculos a ser construída e apresenta dois estilos: gótico tardio e barroco. Ao entrarmos, somos logo surpreendidos pela altura e pelo teto coberto de abóbodas estreladas. O coro, os órgãos, as capelas laterais e os andores enfeitados com flores também merecem toda a nossa atenção.

Catedral de Salamanca; Semana Santa em Salamanca
A Catedral Velha, do século XIII, é bastante mais austera, mas obrigatória. A visita é paga e inclui os claustros e o museu. O que mais se destaca é o retábulo maior, que data do século XV. Os túmulos também são outro ponto de atração. Pertinho das Catedrais fica a Universidade de Salamanca, a nossa próxima paragem. Aqui é onde encontramos o maior número de grupos organizados que aproveitam estes dias para conhecer a cidade. Esta universidade foi criada em 1218 por Afonso X e é a mais antiga de Espanha, da Península Ibérica e da Europa.

Universidade de Salamanca; Semana Santa em Salamanca
Após o almoço e antes que iniciem as procissões, aproveitamos para visitar mais igrejas e outros pontos de interesse. Nestes dias, todas as atrações, religiosas ou não, estão abertas, por isso é uma excelente altura para visitar Salamanca. Passamos pela Plaza Mayor, pelo Convento das Úrsulas, pelo Paláciode Monterrey e pela Casa das Conchas.
A última visita da tarde  foi marcada previamente e fica em pleno centro histórico: a Universidade Pontifícia de Salamanca. Inserimo-nos num grupo organizado e toda a visita é guiada. Esta universidade está localizada no  antigo Colégio Real da Companhia de Jesus. Neste edifício de estilo barroco pode-se saber mais sobre a história da universidade, sobre os estudos nela ministrados, conhecer as várias salas, igreja e pátio, onde é costume terminar-se com uma foto de grupo junto ao poço.
Quando saímos, já se iniciou a procissão do Santo Enterro, organizada pela Cofradía de la Oración de Jesús en el Huerto de los Olivo, e que sai da  Igreja del Carmen de Abajo. As ruas estão apinhadas e ninguém quer perder o seu lugar.

Cofradía de la Oración de Jesús en el Huerto de los Olivo; Igreja del Carmen de Abajo; Semana Santa em Salamanca

Esta confraria recria a passagem bíblica de Cristo no Monte das Oliveiras (Jesús en el Huerto de los Olivos) e o hábito é constituído por uma túnica branca, sapatos pretos e o cinto e capa verdes.
Assim que esta termina, começamos a ouvir mais abaixo a banda que irá acompanhar a Ilustre y Venerable Congregación de Jesús Rescatado y Nuestra Señora de las Angustias. Esta é das congregações mais antigas de Salamanca (1686) e tem a sua sede canónica na Igreja de San Pablo. O hábito é constituído por túnica e manto de veludo roxo, coroa de espinhos, cordão de ouro em volta do pescoço, luvas, meias e sapatos pretos. Na frente vai a banda  do Agrupación Musical Cristo Yacente de Salamanca, seguidos dos estandartes e das imagens de Nuestro Padre Jesús Rescatado e Nuestra Sra. de las Angustias. O seu vestuário, os cabelos, os olhos e a expressão de sofrimento provocam uma profunda emoção, religiosa ou não, numa epifania conjunta de lágrimas, preces e agradecimentos.

Ilustre y Venerable Congregación de Jesús Rescatado y Nuestra Señora de las Angustias; Iglesia de San Pablo; Semana Santa de Salamanca
Ilustre y Venerable Congregación de Jesús Rescatado y Nuestra Señora de las Angustias; Iglesia de San Pablo; Semana Santa de Salamanca
Ilustre y Venerable Congregación de Jesús Rescatado y Nuestra Señora de las Angustias; Iglesia de San Pablo; Semana Santa de Salamanca
Tal como a maioria das igrejas e palácios de Salamanca, as celebrações da Semana Santa refletem uma teatralidade barroca, dirigida a emocionar os corações e provocar uma compaixão conjunta.

3 comentários:

  1. Recém-chegada da Andaluzia, pude testemunhar o espírito que rodeia a Semana Santa também ali. Verdadeiramente impressionante e autêntico...

    ResponderEliminar
  2. Boa tarde, você acha que ir na semana santa pode atrapalhar a visitação na cidade?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom dia Raquel:
      Eu acho que é uma mais valia ir na Semana Santa, já que algumas igrejas que poderiam estar fechadas noutras ocasiões, estão abertas durante as festividades. Além disso, estas celebrações são carregadas de grande emoção e autenticidade, ao que será difícil ficar indiferente.
      Depois venha partilhar a sua experiência!

      Eliminar