Arte chocalheira

Usados nas regiões de pastorícia, os chocalhos têm a sua maior expressão no Alentejo. Os Chocalhos Pardalinho continuam a produzir estes objetos identitários das Alcáçovas, classificados como Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.


Quando em 2015 a UNESCO classificou a arte chocalheira, os chocalhos voltaram a estar na ordem do dia. Entrevistaram-se artesãos, recordou-se a urgência em passar a arte às gerações futuras e em não deixar morrer uma tradição com cerca de 2000 anos. Mas como tantos outros assuntos, acabou por esmorecer com o tempo.
É nas Alcácovas, em Viana do Alentejo, que os chocalhos têm maior expressão. Em tempos, já foram muitas as famílias que se dedicaram a esta atividade mas hoje restam muito poucos. Actualmente, existem na Chocalhos Pardalinho dois mestres chocalheiros, Guilherme Maia e Francisco Cardoso.
De todas as atividades que tenho conhecido e aqui partilhado, esta é sem dúvida a mais dura, morosa e complexa. É um trabalho inteiramente artesanal e com recurso apenas a algumas ferramentas e um saber-fazer herdado das gerações mais antigas.


O único objetivo dos chocalhos é facilitar a localização dos animais. Como antigamente os campos de pastoreio não estavam vedados e alguns animais gostavam de abalar, o chocalho permitia encontrá-los e reuní-los no final do dia.
Existem diversos tipos de chocalhos para vários animais: vacas, ovelhas, cabras, porcos e até cães. O processo é igual para todos, difere apenas a espessura da chapa. No entanto, a este uso utilitário juntou-se outro e hoje fazem-se chocalhos de medidas muitas diferentes, sobretudo para eventos e comemorações especiais. É o caso do que Francisco Cardoso está prestes a iniciar. Tudo começa na máquina onde corta a folha de ferro.


Depois faz um picotado e leva-a a uma espécie de rebarbadora onde retira o excesso. Posteriormente, sentado no banco de trabalho, com a bigorna e a tesoura de cada lado, começa a moldá-la até se assemelhar a um chocalho. Terminado este processo, faz-se um buraco onde se coloca o céu para segurar o badalo em madeira ou metal.



O passo seguinte é esbarrar, ou seja, cobrir o chocalho duma mistura de barro e palha de trigo e colocá-lo a secar. Quando se tem um número suficiente, levam-se ao forno a cozer.


E se até aqui, o constante bater e ruído pareciam duros, esta fase é realmente perigosa. Francisco Cardoso pede-me que não ultrapasse as linhas de segurança no chão. Munido de um fato, luvas e capacete elaborados para o efeito, abre a porta e com a ajuda de um ferro, pega nos chocalhos pelo único orifício e coloca-os no forno. É um trabalho tão rápido quanto possível, já que a temperatura atinge os 1250ºC. A cozedura demora cerca de 45 minutos (dependendo dos tamanhos), incluindo várias aberturas da porta para virar os chocalhos.


No momento de os retirar, todos largam as suas tarefas para ajudar. Cada um, munido de dois ferros, rebola os chocalhos no chão para que a liga de metal que derreteu com o calor se espalhe de forma uniforme e volte ao estado sólido.


São levados para o exterior e colocados em água. Só depois de frios é que o invólucro é partido e o chocalho retirado. 
Regressam à bigorna e às mãos e ao ouvido treinado de Francisco Cardoso. Com batidas certeiras, vai afinando o som, tarefa que só a experiência e intuição sabem apurar. Os chocalhos maiores têm uma sonoridade mais grave e os mais pequenos um som mais agudo.


No final, trouxe um porta-chaves com o meu nome gravado e um pequeno chocalho para colocar as chaves de casa. O meu filho sempre gostou de brincar com qualquer tipo de chave e já houve momentos de aflição em conseguir encontrá-las. Mas devido ao som muito agudo do pequeno chocalho, esse problema ficou resolvido.

Chocolhos Pardalinhos
Zona Industrial das Alcáçovas
Rua dos Saberes e Sabores, 12
7090-020 Alcáçovas
chocalhospardalinho.com

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