Nápoles e Pompeia - Parte I


A cerca de 2 horas de Roma encontramos Nápoles, uma cidade difícil de nos conquistar, que primeiro se estranha e depois se entranha. Berço da pizza, mas também de papas e imperadores, é um excelente local para ficar, caso o destino seja Pompeia ou a Baía de Nápoles.


Chegámos à estação de Napoli Centrale ao fim da manhã. Tínhamos previsto visitar a cidade durante a tarde e na manhã seguinte partir para Pompeia. Dirigimo-nos à zona de comboios regionais e compramos logo os bilhetes de ida e volta.

Deixámos a estação e entrámos na Praça Garibaldi, sala de visita para quem chega à cidade. Tivemos a sensação de estar num local caótico: obras por todo o lado, carros de intervenção de polícia parados, vendedores de rua a apregoar os seus produtos, muito trânsito e motos a toda a velocidade. Não sendo possível atravessá-la, tivemos de fazer o percurso até ao hotel, que fica no lado oposto, por uma lateral. O caminho parecia interminável...

Praça Garibaldi, Nápoles, Itália


Se por toda a Itália não há grande consideração pelos peões, mesmo quando o sinal está verde, em Nápoles é muito pior. Não interessa se há semáforos e de que cor estão; se não deixarmos bem claro aos automobilistas que vamos atravessar, eles simplesmente não travam. É um trânsito semelhantes a alguns países árabes: todos avançam, todos apitam e praguejam e quem sofre são os peões. Aqui, toda a atenção é pouca.

Praça Garibaldi, Nápoles, Itália

Quando chegamos ao Una Hotel Napoli, foi uma sensação de alívio: cheio de sol e bastante tranquilo. Como ainda era cedo para o check-in, deixamos as malas e pedimos ao rececionista que nos arranjasse um quarto num piso o mais alto possível. Riu-se.

A nossa prioridade era apanhar o metro para o Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, que como se situava junto à estação de comboio, lá tivemos que atravessar a praça novamente. Mais ou menos a meio, havia uns vendedores de rua e à nossa frente ia um rapaz que resolveu começar a insultar um deles sem nenhum motivo. Envolveram-se numa troca de palavra pouco amistosa e o rapaz lá seguiu aos gritos, com aquele ar de fanfarrão, de quem procura problemas.

A estação era bastante confusa e escura, pelo que  chegamos à plataforma da linha 1 sem perceber onde se comprava os bilhetes. Encontrámos uma rapariga que parecia meio perdida e que nos veio pedir ajuda. Apercebemo-nos do seu sotaque e arriscámos perguntar se era brasileira. Disse logo que sim e ficou contente por encontrar alguém que falava português. Contou-nos que veio para Nápoles ao abrigo do programa Erasmus, mas estava muito assustada com a cidade, pois era muito perigosa e nem se atrevia a andar sozinha na rua à noite. Despedimo-nos e saímos na estação “Museo”.

O Museu Arqueológico Nacional de Nápoles localiza-se num edifício do século XVII, onde já esteve o Palácio dos Estudos Reais, a sede da Universidade de Nápoles, o Museu Bourbon e a Real Biblioteca.

Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, Salone della meridiana, Itália


Conhecido por albergar os vestígios de Pompeia, o espólio é constituído por outras coleções: numismática, epigrafia e egípcia. No piso térreo, a secção de escultura é absolutamente surpreendente, pela dimensão e execução.

Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, vestígios de Pompeia, Itália

A coleção Farnese engloba esculturas greco-romanas, como "O Touro Farnese" e o Hércules. De salientar também a secção de bustos romanos, onde se encontra o de Júlio César e Sócrates. Um outro destaque é o Salão della Meridiana, com a estátua do Atlas com o globo celeste aos ombros.

Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, vestígios de Pompeia, Itália


A grande maquete da cidade de Pompeia dá-nos uma ideia da sua dimensão e do que nos espera no dia seguinte.

No piso superior, encontra-se a coleção de pinturas retiradas das paredes das casas de Pompeia, retratando cenas do quotidiano, figuras mitológicas e conquistas militares. É aqui que está a pintura da poetisa Safo, que nos fez de imediato recordar os nossos livros de história.

Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, vestígios de Pompeia, Itália

Já de saída, perguntámos a uma vigilante que lia um livro junto à varanda, tentando apanhar algum fresco, onde podíamos visitar a coleção de obras eróticas. Explicou-nos, num inglês forçado, que essa secção estava fechada devido a remodelações.

Abandonámos o museu com pena de não haver mais salas para visitar e conscientes da extraordinária experiência pela qual acabamos de passar. É uma visita única e imperdível.

Em frente ao Museu ficam as galerias Principe di Napoli, um espaço restaurado, com algumas semelhanças com as galerias Vitor Emanuel II, em Milão, mas sem lojas abertas e praticamente desertas.

Galerias Principe di Napoli, Nápoles, Itália

De seguida apanhamos um autocarro para a zona portuária. Quando entrámos, pedimos ao motorista dois bilhetes, mas o senhor não falava inglês e arrancou. Voltámos a insistir e na próxima paragem indicou-nos uma máquina na paragem que é onde se compram os bilhetes (atenção que só aceitam moedas.) Acabámos por não sair e lá fomos, rua abaixo, em estilo clandestino. Apontámos no mapa para onde queríamos ir e o senhor deu-nos indicação que nos deixaria no local. Durante a viagem deu para perceber que Nápoles é uma cidade bastante suja e caótica, com edifícios muitos bonitos, mas alguns bastante degradados: uma mistura de Havana mas com um trânsito de países Árabes.

Nápoles

Saímos na Piazza Municipio, em frente ao Castelo Novo, conhecido por “Maschio Angioino”: um castelo medieval e o maior símbolo da cidade. Nele encontra-se sediada a Sociedade Napolitana de História Nacional, o Instituto para a História do Risorgimento Italiano e o Museu da Cidade.

Castelo Novo, Maschio Angioino, Nápoles, Itália

Continuamos a pé pela Via San Carlo, passamos pelas Galerias Umberto I, em frente ao Teatro Real San Carlo, até que chegamos à enorme Piazza Plebiscito, uma das maiores em Nápoles, delimitada a leste pelo Palácio Real e a oeste pela Igreja de San Francesco di Paola, com colunatas que se estendem para ambos os lados.

Piazza Plebiscito, Igreja de San Francesco di Paola, Nápoles, Itália

A praça merece uma visita, mas como é normal em Nápoles, está suja e pouco cuidada. Serve de dormitório aos sem abrigo e alguns miúdos jogam à bola em frente ao Palácio. A igreja encontrava-se aberta mas um padre não nos deixou fotografar o seu interior.

Piazza Plebiscito, Igreja de San Francesco di Paola, Nápoles, Itália

Ao sairmos deparamo-nos com o luz de fim de dia a incidir sobre o Palácio Real.

Piazza Plebiscito, Igreja de San Francesco di Paola, Palácio Real, Nápoles, Itália

Na Via Console Cesario pode ter-se uma vista privilegiada sobre o porto de Nápoles com o Vesúvio por trás.

Porto de Nápoles e o Vesúvio, Itália

Já um pouco cansados, não só pelo calor mas também pelas horas passadas em transportes, apanhamos um autocarro em frente às Galerias Umberto I. Houve um senhor na paragem que nos indicou a tabacaria onde podíamos ir comprar os bilhetes. Quando regressámos agradecemos a simpatia. Também nos aconselhou a colocarmos as nossas mochilas no peito e não nas costas. Fez com a mão o gesto de roubo. Ele lá sabe.

Galerias Umberto I, Nápoles, Itália

Finalmente chegámos ao nosso quarto, no último piso, com vista para a praça. Abrindo a janela, o barulho é intenso, não só do trânsito, mas também das máquinas. Aproveitamos para nos refrescar e trocar de roupa, desfrutando das excelentes comodidades do hotel.

À noite, o nosso objectivo era experimentar a verdadeira pizza napolitana, pelo que tinhamos encontado o restaurante Antica Pizzeria da Michele que ficava a cerca de 500 m do hotel. Este restaurante é muito famoso mas fomos surpreendidos pelo grande número de pessoas à porta. O sistema é simples: é chegar, tirar uma senha e esperar. O tempo de espera é que é bastante. Optámos pelo Restaurante Pizzeria Mattozzi em frente, onde comemos um tagliatelle com molho de coelho, um prato também típico de Nápoles, mas que não foi nada apreciado: mau atendimento, muito tempo de espera e um preço muito acima da qualidade servida.

De regresso ao hotel, pensámos no nosso dia: gostavamos de ter tido a oportunidade de sair do roteiro turístico e visitado a outra Nápoles: as ruas estreitas com os seus cordões de roupa colorida; o comércio local; os mercados. De uma coisa temos a certeza: Nápoles ou se ama ou se detesta.

Como ir:
Existem vários comboios de outros pontos de Itália.

Onde Dormir:Una Hotel Napoli, está bem localizado na Praça Garibaldi e é uma excelente relação preço-qualidade, com quartos totalmente renovados e um excelente pequeno-almoço servido no terraço.

Onde Comer:L'Antica Pizzeria Da Michele, Via Cesare Sersale, 1

7 comentários:

  1. Olá, vim lhe retribuir a visita ao meu blog. Acabei de ler o seu artigo também, e gostei muito do que você escreveu. Com certeza partilhamos olhares parecidos sobre esta cidade. Quando você escreve que Nápoeles é uma cidade que primeiro se estranha, eu concordo absolutamente. É uma belíssima cidade em sua efervescência e riqueza cultural, abrçs. Mauricio

    ResponderEliminar
  2. Napoles é uma favela na europa, não só de pessoas feias e maloqueiras, mas as casas total mau cuidadas e em ruinas.

    ResponderEliminar
  3. É verdade que não é uma cidade fácil. Talvez seja daí que lhe vem algum encanto.

    ResponderEliminar
  4. E o trânsito? Nunca vi nada igual. O centro da cidade é coisa de louco, nunca tinha visto tantos carros destroçados, um horror!

    ResponderEliminar
  5. O caos é algo que, na dose certa, permitindo-nos sobreviver e ir andando por entre as suas brechas, tem de facto um encanto especial. Quando se viaja, tem de se olhar para lá dele e é aí que acabamos por nos apaixonar por algo inusitado. Nápoles é assim e foi muito bem descrito pela Eva. Parabéns pelo blog.

    ResponderEliminar
  6. Olá Ângela: muito obrigada pelo seu comentário. Acabei por voltar a ler o artigo e recordar o dia que passei em Nápoles.

    ResponderEliminar