Tradições de Natal em Lisboa: da Praça da Figueira ao Chiado


Da Praça da Figueira ao Chiado ainda existem alguns locais emblemáticos associados às tradições de Natal em Lisboa.

Praça Camões; Iluminação de Natal

Estamos em plena quadra natalícia. Os sentimentos e as emoções despertam, chegando mesmo a ser empolados: a alegria é mais alegre, os corações são mais bondosos e a tristeza também é mais triste. Associado à imagem do nascimento de Jesus, a família reúne-se à volta de uma mesa farta de bacalhau, doces típicos e bolo rei. À meia-noite, o Pai Natal desce pela chaminé e deixa no sapatinho os presentes com os seus embrulhos coloridos e fitas brilhantes…mas só para aqueles que se portaram bem. Claro que este é o espírito que devia ser vivido, mas a ideia consumista, fomentada pelas superfícies comerciais, alterou um pouco certas tradições de Natal. No entanto, há quem continue a preferir mantê-las e procure ainda aqueles recantos que só alguns conhecem ou reparam.
O Pai Natal, como hoje o conhecemos, com o seu fato vermelho e as longas barbas brancas,  está associado a S. Nicolau, bispo na Ásia e padroeiro das crianças. Na Rua da Vitória há uma Igreja que lhe é dedicada. À porta da Nickolaus, na rua do Carmo, a típica figura natalícia faz as delícias dos mais novos.
As árvores de Natal começam a ver-se cada vez mais cedo, em Outubro. Nas praças, nas ruas ou em casa, são estruturas metálicas que ganham vida e iluminam os desejos. Tempos houve que eram verdadeiras, com cheiro a pês e agulhas que picavam. Vendiam-se na Praça da Figueira e vinha-se cedo para escolher a mais bonita.

Praça do Comércio; Iluminação de Natal

Associado à árvore de Natal está sempre o presépio. A verdade é que nem todos o fazem nas sua casas, mas na Rua Garrett tem sido tradição. Quem passa deixa o seu espanto pela Virgem estar grávida. Jesus apenas será colocado nas palhinhas a 24 de Dezembro, dia do seu nascimento. No ano passado levaram a vaca e há 2 anos o burro, mas por agora mantém-se intacto.

Presépio na Cidade; Rua Garrett; Chiado

E como o fiel amigo é rei na noite de consoada, à porta da Antiga Casa do Bacalhau ou na Bacalhoaria Silva há caixas que se amontoam à entrada para responder à procura da época. O atendimento personalizado é uma boa ajuda na escolha desta iguaria.

Antiga Casa do Bacalhau; Praça da Figueira

Não é só na noite de passagem de ano que se comem as passas e frutos secos: são também tradição de Natal. A chamada mercearia fina inclui vinhos de mesa, o vinho do Porto, queijos, charcutaria, vinagre e o indispensável azeite. A Manteigaria Silva, a Manuel Tavares ou a Casa Pereira são dos melhores espaços comerciais.

Mercearia fina

O Bolo Rei, como hoje o conhecemos, é de origem francesa e está associado aos Reis Magos: a côdea simboliza o ouro, as frutas a mirra e o recheio, o incenso. Aquele que  tirasse a fava, era quem entregava primeiro o presente ao menino. Baltazar Castanheiro é o responsável pela fama do bolo da Confeitaria Nacional, onde já a Rainha D. Amélia ou Salazar faziam as suas encomendas. Outra opção é a Pastelaria Suíça, onde antes era o Hospital Real de Todos os Santos.
E na festa da família, há que vestir a preceito. Na esquina da Rua Augusta com o Rossio era a antiga Loja das meias e dos espartilhos. Mas se começarmos a subir a Rua do Carmo, imortalizada na conhecida canção dos UHF, encontramos a H&M, onde existiam os antigos Armazéns Grandella. A rivalizar estavam os Armazéns do Chiado, outrora Convento do Espírito Santo da Pedreira e mais tarde Palácio dos Barcelinhos. Se olharmos um pouco mais de perto, ainda lá está o brasão como testemunha. Na zona comercial mais nobre da cidade, o luxo estava bem presente na Paris em Lisboa, loja da preferência da rainha D. Amélia, que ainda hoje é sinal de qualidade e bom gosto. Na atual United Colors of Benetton era a antiga Ramiro Leão, onde se comprava os tecidos para fazer a roupa nova.

Lisboa em Paris

Ao lado da muralha do Carmo, com o fado sempre presente, a Luvaria Ulisses é um apontamento de requinte. A prova de que a qualidade não se mede aos palmos é que os seus 4 metros quadrados se mantêm desde os anos 20 do século passado como uma referência em Lisboa. Mesmo sem entrar, pode ver-se a almofada onde assenta o cotovelo para que a luva entre na perfeição.
É o Natal dos sabores e dos cheiros, do café após a refeição, agora comercializado pela conhecida Nespresso, antiga Au Bonheur des Dames. Mais tarde passou a Perfumaria Ideal e vendia alguns produtos de beleza, como a Água Alexandra, o Depilatório Ideal ou o Leite Antefelico Maria. Claro que todos estes produtos eram mais publicitados nesta época festiva, pelos ardinas que saiam do antigo Diário de Notícias, onde hoje é a Feira dos Tecidos, e percorriam esta zona nobre.

Au Bonheur des Dames

O Chiado, para além de ser o primeiro centro comercial de Lisboa, foi e continua a ser um local de elites, frequentado por intelectuais e homens de cultura. E como oferecer um livro é dar mais do que um presente, a livraria Sá da Costa deixou de ser opção pelo lamentável encerramento. Um pouco abaixo mantém-se a  mais antiga livraria portuguesa: a Bertrand.

Livraria Sá da Costa

No Largo Trindade Coelho, a estátua em bronze representa um cauteleiro, figura típica de Lisboa, que vendia a Lotaria de Natal, instituída por D. Maria I para ajudar as crianças órfãs. Os pregões já não se fazem ouvir mas a tradição mantém-se e a Casa da Sorte na Rua Garrett e na Praça da Figueira ainda a vendem.
Este Natal do consumo, das compras, das lojas e da iluminação nasceu no século XIX. As montras das casas mais tradicionais rivalizam entre si para arrecadarem o prémio de “a mais bonita”. A Baixa e o Chiado continuam a ser lugares de quem cultiva o gosto pelas tradições do passado. Os tempos são outros e alguns hábitos foram-se alterando. Mas uma coisa mantém-se. As famílias saem à noite para ver as iluminações de Natal. Chiado, Rossio, Praça do Comércio, Avenida da Liberdade e Marquês de Pombal continuam a ser os mais procurados para quem quer viver o espírito de Natal. As crianças adoram… e os adultos também!

Iluminações de Natal em Lisboa

0 comentários:

Enviar um comentário