Na margem direita do Tejo

A cerca de 30 minutos de Lisboa, Vila Franca de Xira mantém viva a sua relação com a festa brava e tradições de outros tempos.

Monumento ao Campino

Junto à linha de comboio, a cancela está fechada. Cheguei em hora de ponta. É dia de trabalho e muitos são os que fazem deste o seu transporte habitual para Lisboa. Enquanto espreito para avistar o comboio, há uma senhora que me apita repetidamente e acena com a mão para eu recuar. Quando finalmente é permitido avançar, para junto de mim e pergunta: “Need some help?” “Obrigada mas estou orientada. Vou para o jardim.” Pediu desculpas por me julgar de fora e aconselhou-me a visitar a nova biblioteca, com o sugestivo nome de Fábrica das Palavras. Mesmo sem essa indicação, seria impossível passar ao lado sem reparar no antigo edifício da fábrica de descasque de arroz, hoje dedicado à cultura.
No chão de paralelepípedos está escrito Cais de Vila Franca de Xira. O sol quente ilumina o casario baixo e branco com uma luz que cega, tal a sua intensidade. Não se vê vivalma mas do interior da tertúlia Os Amigos do Tejo ouve-se música chinesa.
O Barco Varino “Liberdade” é hoje um núcleo museológico  e veículo de agradáveis passeios pelo Tejo. Construído em 1945 para transporte de mercadorias, por ele passaram algumas das pessoas representadas na escultura do Cais da Jorna. Era aqui que os trabalhadores se reuniam e eram contratados diariamente para os campos e fábricas.

Barco Varino “Liberdade”
Inaugurado em 1954, o Jardim Constantino Palha foi requalificado em 2011. Espaçoso, verdejante e muito fresco, com vários pontos de descanso e bebedouros para contrariar o calor.
Os azulejos na Estação Ferroviária de Vila Franca de Xira são um testemunho pictórico da identidade e tradições locais: a vida no campo, os touros e campinos, o transporte de mercadorias e a íntima ligação ao Tejo.

Estação Ferroviária de Vila Franca de Xira

Faço uma visita rápida ao Museu Municipal e sigo para o Museu do Neo-Realismo. Recordei alguns autores do meu tempo de estudante, como o Bernardo Santareno e o Alves Redol  e os artigos da Revista Vértice. Para além da literatura, as artes plásticas, o cinema, o teatro e a música também estão presentes. No final, fiquei feliz por adicionar mais um item à minha lista de melhores museus de Portugal.

Museu do Neo-Realismo; Vila Franca de Xira
Na antiga Travessa dos Maiorais, uma placa fixada na parede recorda alguns dos homens que aqui habitaram mas hoje a Travessa do Alecrim é conhecida pela Casa Museu Mário Coelho. De pequenas dimensões, alberga um vasto espólio do toureiro vilafranquense, incluindo trajes de luces, condecorações e presentes, como um charuto (oferta de Orson Wells) ou uma caneta de prata (oferta de Álvaro Guerra).

Casa Museu Mário Coelho; Vila Franca de Xira

Atravesso a Praça Afonso de Albuquerque onde está a Câmara Municipal e o Posto de Turismo e aproveito a sombra junto ao Monumento ao Campino.
Termino no bonito Mercado de Vila Franca de Xira. Inaugurado em 1929, foi restaurado há cerca de 10 anos. De fachada branca, portões verdes e quatro torreões decorados com azulejos alusivos a atividades agrícolas de cada estação do ano. O interior está bem organizado e os produtos expostos de forma apelativa. Comprei uns bolinhos de limão que me asseguraram ser caseiros. Posso garantir que eram deliciosos.

Mercado de Vila Franca de Xira

De regresso a casa, continuei a percorrer a margem direita do rio Tejo. O sol começa a dar tréguas e o calor abranda. É a altura ideal para desfrutar de um passeio pelo Parque Linear Ribeirinho Estuário do Tejo ou visitar o núcleo museológico “A Póvoa e o Rio” e a casa avieira no Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria.

2 comentários:

  1. Olá Eva. Descobri há pouco o teu blog e tem sido um prazer ler os textos que escreves. Este vou guardá-lo nos meus "bookmarks" para revisitar Vila Franca de Xira em breve. Fiquei com vontade de seguir as tuas dicas de viagem. Obrigada e continua a escrever. Há pessoas deste lado que te seguem com interesse.

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  2. Bom dia Sofia: obrigada pela visita e pelas palavras de incentivo. Gostei muito de visitar Vila Franca de Xira. Todos os vilafranquenses que conheci falaram com um enorme orgulho do seu património e tradições. E acima de tudo gostam de sugerir outros locais de interesse. Boas viagens!

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