Do mundo para a Mouraria

Bairro típico de Lisboa, a histórias da Mouraria descobrem-se nos seus paladares, nos estendais coloridos, nas fachadas e sons do mundo.

Mouraria

Sempre que regresso à Mouraria sei que irei descobrir algo novo. Gosto de me perder pelas ruas estreitas, onde o cheiro a antigo se mistura com o da roupa acabada de lavar nos estendais. Cruzar-me com olhares escondidos por detrás das cortinas, que alimentam os dias com a normalidade quotidiana dos demais. Ir de encontro à agitação que caracteriza um bairro cheio de vida.

Entrar, parar e escutar


A Mouraria é o bairro mais multicultural de Lisboa. São vários os pontos de entrada mas há dois de que gosto em particular: a Rua do Capelão exibe orgulhosamente o monumento dedicado ao fado e a Rua da Madalena dá acesso ao Mural nas Escadinhas de São Cristóvão.

Rua do Capelão; Mouraria

Se me sentar na Praça Martim Moniz ou percorrer as ruas, a experiência será a mesma: um cruzamento de línguas. Vieram do Paquistão, Bangladesh, Nepal, Sri Lanka ou China e hoje são as mais de 50 nacionalidades que lhe dão uma riqueza e diversidade únicas. A comunidade muçulmana também é significativa e à sexta feira chegam a juntar-se centenas de pessoas para orar.
Tempos houve em que a Mouraria estava conotada com uma imagem negativa. Não é que agora tudo seja perfeito mas a recuperação do bairro melhorou ruas, trouxe gente e novas dinâmicas. A Associação Renovar a Mouraria foi uma das forças motoras que pugnou pela sua revitalização e muito do que até hoje está feito é a ela que se deve. Visitei-a no Beco do Rosendo e conheci as várias atividades que desenvolve, com e para a comunidade.

Recantos com encantos


A Mouraria é dos lugares mais cosmopolitas de Lisboa. É comum ver grupos e visitantes individuais que percorrem as ruas de máquinas fotográficas sempre prontas a captar um pormenor especial. Os gatos nem se dão ao trabalho de interromper o sono. Permanecem aninhados às portas, rentabilizando a preguiça enquanto não é hora do almoço. O mesmo fazem os pombos, longe dos incómodos de quem passa, no alto das varandas. Varandas essas também “cosmopolitas”: para além das plantas mais convencionais, servem de local de cultivo a alimentos, guardam ferro velho ou simplesmente permanecem despidas.

Mouraria

Pela boca morre o peixe


O ditado já é antigo e não há como me deixar conquistar pelo estômago. A Rota das Tasquinhas de Restaurantes da Mouraria dá a conhecer um mundo de sabores. São dezenas os estabelecimentos aderentes que propiciam experiências gastronómicas de outras paragens. Pode-se optar por uma refeição à mesa, petiscar enquanto se assiste a um concerto de fado ou simplesmente comprar algo e andar. É este o conceito do Catch Up, com os seus hambúrgueres take away. É uma das opções na Rua do Benformoso mas para uma experiência diferente, um dos vários restaurantes clandestinos chineses pode ser a escolha.
Como raramente rejeito algo doce, entrei no Bangla para provar uma sobremesa tradicional do Bangladesh. Por sugestão comi um bolo de cenoura e leite em pó, tão rico de cor como sabor e diferente de tudo o que já tinha experimentado.

Uma manta de retalhos


As suas lojas de produtos especializados auto alimentam a população local mas também gente de fora. Já recorri várias vezes aos supermercados e lojas de especiarias para adquirir “aquele” ingrediente. Mas não esqueçamos as lojas de telemóveis, tecidos étnicos e os vários talhos halal que comercializam a carne permitida para a comunidade islâmica.

Mouraria

Paredes com arte


aqui falei acerca dos retratos da autoria de Camilla Watson dedicados a figuras do fado relacionadas com a Mouraria. Mas este não é o único trabalho da fotógrafa. A exposição “Tributo” é uma homenagem às gentes locais no seu dia-a-dia, impressas na parede do Beco das Farinhas, que termina no Largo dos Trigueiros.

Mural nas Escadinhas de São Cristovão; Mouraria; Arte Urbana

Não sei se é por estarem mais escondidos mas os becos são lugares de eleição para graffitis. No Beco do Castelo e no Beco dos Surradores estão dois dos mais conhecidos. Claro que nenhum tira o protagonismo ao Mural nas Escadinhas de São Cristovão, que é por si só uma celebração do fado. Para além da representação de fadistas da Mouraria, cruza de forma dinâmica a imagem e as palavras de fados conhecidos de muitos.

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