Regresso à infância n’A Vida Portuguesa

A vida portuguesa Porto

Já passaram alguns anos desde que entrei pela primeira vez n’A Vida Portuguesa. Foi numa tarde soalheira mas fria de Inverno, daquelas em que o Chiado convida a passeios tranquilos e escapadelas para o calor das lojas. Tinha uma ideia do que iria encontrar mas a experiência é sempre melhor. E claro está, a viagem à infância começou assim que entrei.

A Vida Portuguesa
A vida portuguesa

No grande armário do lado direito encontrei os sabonetes que em criança costumava comprar com o meu pai. O meu critério era simples: tinham de ter o embrulho mais bonito. A escolha recaía quase sempre nos da Ach Brito, em particular nos azuis e brancos. Nunca ninguém soube mas eu tinha uma brincadeira secreta: retirava-os da gaveta e fazia comboios no chão, alinhando-os por tamanho e imaginava carruagens perfumadas.

A Vida Portuguesa

Recordei que aprendi a escrever com lápis da Viarco e que tinha de pedir autorização à professora para os afiar. Naquele tempo tudo era poupado ao máximo, incluindo os cadernos Firmo, nos quais só era permitido desenhar na primeira classe.
 Encontrei o fogão que recebi na Páscoa e onde fazia uns cozinhados que todos diziam gostar. Terminei a viagem ao passado com os ténis Sanjo. Nunca tive nenhuns mas lembrei-me da birra que o meu irmão fez numa manhã de Sábado, como se o continuar da vida dele dependesse de ter aquele par.

Ténis Sanjo; A Vida Portuguesa

Hoje conheço todas as lojas e é a elas que recorro quando procuro algum produto marcante da nossa portugalidade. O prato vermelho Bordalo Pinheiro está sempre reservado para o bolo rei na noite de Natal, a flor de sal Marisol dá aquele toque especial aos grelhados, os chocolates Regina confortam em qualquer momento, as ameixas d’Elvas acompanham um dos meus doces favoritos e os lençóis Coelima dão-me noites de sono reconfortantes. No topo das minhas escolhas estão os cadernos Emílio Braga, sempre presentes nas viagens e fiéis depositários das minhas notas.

A vida portuguesa

A minha favorita é a loja do Porto, pela localização, organização do espaço e o impacto da velha escadaria em madeira. No entanto, a que visito com mais regularidade é a do Intendente e é aqui que vou criar novas memórias. Agora que sou mãe, é impossível ficar indiferente ao berço no primeiro andar, junto aos artigos Ideal & Co, que mais uma vez me remetem para o universo das viagens.

A Vida Portuguesa

Tal como vejo a outros pais, vou regressar muitas vezes com o meu filho, sentar-me nas pequenas cadeiras e contar-lhe histórias da minha infância. Vou mostrar-lhe a corda com que dei tantas voltas no terraço, a fisga com que o meu irmão dizia caçar pássaros e o avião onde sempre sonhei andar. Não vai ser tarefa fácil, já que hoje as motivações são outras, mas pelo menos vou tentar.

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