Cortiçarte

O sobreiro é das espécies mais emblemáticas de Portugal, característico do alentejo e serras algarvias. É conhecido sobretudo pela produção de cortiça muito direcionada para a indústria da rolhas de vinho. Mas desta matéria prima pode-se obter muito mais.


O sobreiro é um elemento cosntante na paisagem alentejana. Vejo-os ao longe, um aqui, outro além, porque a Natureza é como uma obra de arte: necessita respirar. Do sobreiro obtêm-se sobretudo duas importantes matérias: a bolota, antigamente dada sobretudo aos animais e hoje transformada em produto gourmet, e a cortiça, que continua a ser direcionada para a produção de rolhas. No entanto, pelas suas características de elasticidade, impermeabilidade e isolante térmico, é também usada na indústria da construção, decoração e têxtil.
A Cortiçarte, empresa fundada em 2000 e a operar na Azaruja (Évora), dedica-se à extração, tratamento e transformação da cortiça em produtos variados. Ao sr. Joaquim Silvestre já lhe pediram objetos curiosos, talvez o mais excêntrico, tenha sido um caixão.
-De berços a urnas, já tivemos de tudo. - conta-me.
Só não vingou porque devido às suas características de impermeabilidade, é um produto difícil de se decompor. 


Acompanho-o até ao exterior, junto do grande sobreiro que já conta com 80 anos, para perceber melhor todo o processo. A sua longevidade média é de cerca de 250 anos, ainda que atinjam os 350 a 400 anos. No entanto, só fica capacitado para lhe extrair cortiça a partir dos 25 a 30 anos de vida. A primeira cortiça é chamada de virgem, bastante densa e compacta. A partir daí, a cada 9 anos, retira-se uma camada. A altura média de um sobreiro ronda os 10 a 15 metros. Na primeira extração de cortiça retira-se até 1,5 metro de altura e ao longo dos anos aumenta-se um pouco, sem nunca chegar até às pontas.

Este trabalho manual, resultado da experiência e conhecimento humano, é de grande respeito pela que é considerada a árvore nacional de Portugal. É importante que o corte seja bem feito, de modo a extrair a espessura certa de cortiça, não ultrapassando o limite natural da árvore para que a seiva possa circular e não ferir o tronco.
Ocorre de meados de Maio a meados de Junho. É fundamental que a temperatura seja estável, entre 30ºC e 32ºC, de modo à árvore “abrir-se” e permitir a extracção da casca. Depois de retirada fica cerca de 3 meses armazenada. 


Toda a cortiça para entrar na indústria tem de ser previamente cozida. Num grande tanque estão 7000 litros de água sem qualquer aditivo onde se colocam 1200 quilogramas de cortiça, durante 1 hora. A cor escura da água deve-se aos taninos presentes na cortiça. Após cozedura é sujeita a um processo de seleção e separada mediante a suas características, entre as quais a espessura e qualidade. Como é sobreposta e está mais maleável devido à expansão das moléculas, acaba por adquirir uma forma plana. Tudo de forma natural. Posteriormente, é sujeita a nova cozedura e reforçado o processo de seleção. Aqui decide-se o destino final.


O mundo da cortiça ainda é direcionado para a rolha de vinho. Se os produtores de vinho decidissem, como ouvi na Áustria, usar rolhas de rosca, os montados teriam os dias contados. Do universo global de produção de cortiça, só 18% é canalizado para a produção de rolhas e apenas 4% direccionado para as de melhor qualidade. Os preços falam por si: uma rolha de excecional qualidade custa 1,40€. As restantes vão desde 0,05 € a 1€. Claro que há um sem número de utilizações alternativas para a cortiça mas sem expressão económica. 


Aproximo-me do quadro onde estão exemplos referentes aos vários ciclos de extrações de cortiça. A primeira tem 25 anos, a segunda mais 9 anos e são bem visíveis as diferenças, em especial as fissuras. A terceira cortiça, com 43 anos, já tem mais aproveitamento.
A cortiça virgem, como é mais espessa porque tem excesso de matéria, é usada para a produção de rolhas de maiores dimensões, indicadas para licores e aguardentes.
As cortiças mais finas são utilizadas para a produção de discos para as rolhas de champanhe e espumante e telas que irão originar carteiras, blocos de apontamentos, guarda chuvas, candeeiros... um mundo.
As de melhor qualidade são direcionadas para a produção de rolhas de vinho. Após a primeira utilização e tiragem da rolha, sobeja matéria. Mas na cortiça nada se desperdiça. O remanescente é triturado para a produção de granulados, transformados em rolhas aglomeradas para vinho, que já têm cola e aditivos.


Os aglomerados são também usados para decorativos de parede ou pavimentos, isolamentos térmicos e acústicos. No entanto, comparativamento aos seus concorrentes no mercado, têm valores mais elevados.
Na loja da Cortiçarte pode encontrar-se um pouco de tudo. Desde objectos de decoração, vestuário e utilitários, a imaginação é o limite. 





Cortiçarte - Arte em Cortiça Lda.
Parque Industrial, Rua A, nº7
7005-109 Azaruja | Évora
corticarte.pt

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