A Adega 23 nasceu num lugar inusitado, junto à A23. A região não é conhecida pela produção de vinho mas a vontade de Manuela Carmona e o auxílio do enólogo Rui Reguinga colocaram-na no panorama dos vinhos nacionais.
É Débora Mendes, enóloga residente, quem me recebe. A entrada da adega lembra um pouco uma galeria, já que também foi pensada para receber exposições. Aqui tudo é novo mas nos vários espaços há objetos carregados de história e identidade: a grande mesa oriunda de uma fábrica de tecidos onde ainda estão marcados os metros, garrafas e garrafões, medidas usadas nas tabernas, o mapa de Portugal igual ao da minha escola primária ou o primeiro quadro que Manuela Carmona usou quando começou a dar consultas e que foi transformado em candeeiro.
Alguns destes espaços interiores são ampliados por largas janelas com varandas adjacentes, proporcionando uma experiência complementar com vista para os 12 ha de vinha.
A primeira colheita ocorreu em 2017 e deu origem a três vinhos: um branco, um rosé e um tinto, todos presentes na prova realizada no final. Iniciou-se com o branco, feito a partir das castas Arinto, Verdelho, Viognier e Síria, tímido de cor mas frutado e com bastante acidez. Sendo o Viognier a segunda casta mais presente, é também um vinho com estrutura e untuosidade na boca.
Seguiu-se o rosé, feito a partir das castas Aragonês e Rufete, de cor bem presente, a fugir à atual tendência.
Terminou-se com o tinto que tinha sido colocado no mercado há um par de meses. É o vinho com mais estrutura, feito a partir das castas Syrah, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Aragonez e Rufete, um verdadeiro super blend. Apesar de jovem, é um vinho robusto, aromático, com os taninos equilibrados e grande potencial de envelhecimento.
Como não é só de vinhas velhas que saem bons vinhos, Manuela Carmona decidiu que nos rótulos apareceria a menção de primeira colheira. Só isso é revelador da paixão, determinação e da crença neste projeto arrojado que tinha tudo para correr mal. Ou talvez não. Nos rótulos está também o primeiro esquiço que o arquiteto Luis Valente fez do que viria a ser a Adega 23.
Para já não se pensa em expansão. Apenas continuar a fazer os melhores vinhos possíveis neste terroir da Beira Interior.
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