Palácio Fronteira: o campo na cidade


Em Benfica, bem perto do Monsanto, entramos no Palácio Fronteira para ouvir histórias de coragem e bravura que remontam à restauração da independência de Portugal.


Nem é preciso entrar para saber que este é um palácio diferente. Enquanto aguardo pela hora de abertura, observo quem irá fazer parte do meu grupo: de 8 pessoas, apenas 2 portugueses. Os restantes são alemães, franceses e uma ucraniana. O mais curioso é que, não estando propriamente no centro da cidade e os transportes não serem muitos, todos chegaram cá, sem excursões nem autocarros.
Após adquirir o bilhete para visita guiada há uma pequena explicação no pátio.  Antigo pavilhão de caça, foi adaptado a casa de habitação após o terramoto de 1755. Inspirada nas vilas italianas, construiu-se uma nova ala, com salas mais pequenas. Sobre as nossas cabeças, o brasão com as armas da família.
Entramos. Não são permitidas fotografias, por isso, há que aguçar os sentidos para reter sensações. Subindo a escadaria, com os seus azulejos e estuque bem conservados, entramos na biblioteca. O dia soalheiro permite a janela aberta e somos todos atraídos para a primeira visão sobre o jardim e o conhecido lago. O parterre de buxo tem 365 formas geométricas, uma para cada dia do ano. Um deslumbre!

A biblioteca tem um acervo de cerca de 5000 livros, desde o século XVI até aos nossos dias. Um biombo espanhol e dois globos ingleses completam a decoração. Em cima do piano, um retrato da família real portuguesa.
A visita prossegue para a Sala das Batalhas, onde é contada a história, num grande painel de azulejos, das batalhas mais emblemáticas entre Portugal e Espanha e dos feitos de D. João de Mascarenhas, Conde da Torre. Como as explicações são dadas em 3 línguas (português, inglês e francês), aproveito para observar mais atentamente os pormenores e acabo por trocar impressões com  os outros visitantes, tentando perceber os locais. A pintura é um pouco tendenciosa e a coragem e bravura dos Marqueses da Fronteira ficou bem enaltecida.
Outro aspecto particular deste palácio é o facto do atual Marquês de Fronteira o habitar. Claro que não entramos no seu espaço privado mas visitamos algumas salas mais íntimas, com quadros da família, tapeçarias, esculturas da autoria de Machado de Castro e até uma mesinha que terá sido oferecida por Maria Antonieta.
Saímos do palácio para a Galeria das Artes, um terraço decorado com azulejos, representando  as artes liberais e a poesia, todas figuras femininas. Há medalhões com imperadores romanos e estátuas em mármore de figuras do Olimpo, como Apolo e Mársias.




No Jardim de Vénus continua a representação  da sátira das “macacarias”, que faz do homem gato e macaco. Desde maestros a dentistas, passando por caçadores de pérolas, que já usavam óculos de mergulho, as profissões são diversas.
Mesmo em frente ao Tanque dos S’s fica a Casa de Refresco onde sabe bem entrar num dia de calor. Da fonte não jorra água mas vale a pena levantar a cabeça para ver o teto. Os pedaços de louça nas paredes pertencem a um serviço onde o rei D. Pedro terá jantado e que foi partido.



A visita guiada termina aqui e continuo sozinha. Um casal de ingleses conversa com os seus filhos, sentados com uma vista privilegiada para o lago e disfrutando da sombra das árvores. Não parecem nada preocupados com o tempo, limitam-se a estar.

Subo a escadaria que dá acesso ao Corredor dos Reis, com bustos desde D. Henrique a D. Pedro II. Em cima da balustrada de pedra, algumas estátuas e vasos com sardinheiras.


De dentro do parterre de buxo aparado emana um agradável odor das várias roseiras bem cuidadas. E quando chego perto do lago decorado com painéis de cavaleiros, duas japonesas perguntam se posso tirar uma foto, aliás, várias, porque a exigência é grande.


Não há pressa em sair. Contornar a fonte central ou descobrir as histórias nos imensos azulejos espalhados pelo jardim é apenas o reiniciar da visita.



O miradouro é um bom local para sentar, observar e refletir. Daqui pode ver-se o jardim, o contraste vermelho da fachada com o azul forte do corredor dos reis. O ruído dos automóveis que passam na via rápida e a visão dos prédios mais em baixo, quase não se sentem com esta paleta de cores e odores que nos envolvem. Para mim, é o palácio mais bonito de Lisboa, não pelo seu espaço interior mas pelo exotismo do seu jardim. Falta só mesmo ser descoberto pelos portugueses.

Palácio Fronteira
Largo de São Domingos de Benfica, 1
1500-554 Lisboa

10 comentários:

  1. Pena Património tão bonito estar fechado aos dias que mais pessoas o podem ir visitar, e os preços também podiam ser em convidativos..
    Mas fora isso parece um local muito bonito (eu já lá estive, mas como era Domingo, fiquei pela porta...)

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  2. Olá Tânia: adiei esta visita algum tempo por considerar o preço elevado mas depois de conhecer, fiquei rendida. Apesar de ter feito visita guiada, acho os jardins a principal atração, pelas suas cores e exotismo. Certamente irá gostar!

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  3. Ando há vários meses com vontade de conhecer este magnífico local, realmente o seu artigo despertou ainda mais a curiosidade. Muito bom com fotos fantásticas

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  4. Estou certa que será uma visita de que irá gostar. Conheço alguns palácios em Lisboa e para mim, este destaca-se pelo exotismo das suas cores e dos painéis de azulejos.

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  5. Não conhecia...já apontei na lista, obrigada pela partilha.

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  6. Olá Marta: este palácio é lindíssimo e luz de Lisboa ainda potencia mais as suas cores. Estou certa que irá gostar!

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  7. Parabéns pelo post. Muito interessante.
    Bonito palácio. Estarei lá na minha próxima ida à Lisboa!
    Abraço

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  8. Olá Arnóbio: é uma excelente escolha de visita. O palácio e os jardins são muito bonitos.

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  9. Não conheço. Tenho que visitar, sem dúvida.
    viagemdoceviagem@blogspot.com

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  10. Olá Carina: numa próxima vinda a Lisboa, não deixe de visitar este palácio. Agora com a vinda da primavera e dos dias soalheiros, será uma boa escolha para uma manhã ou tarde bem passados.

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