Alenquer: a Vila Presépio


Berço de Damião de Góis, Alenquer é uma terra de tradições. Para além da sua ligação ao vinho e indústria lanifícia, mantém o epíteto de Presépio de Portugal.

Alenquer: Presépio de Portugal

Das minhas memórias de criança, recordo-me de passar na EN1 e desembaciar o vidro com a manga da camisola para ver melhor o presépio iluminado. Foram várias as vezes que pedi uma visita mas só este ano o Menino concedeu o meu desejo.
Antes de chegar a Alenquer, fiz um pequeno desvio para conhecer a Igreja de Santa Quitéria de Meca. Era hora de almoço e cheguei no exato momento em que o sr. Padre fechava a porta mas ao ver-me tão determinada na sua direção, rasgou um grande sorriso e perguntou: “Quer ver a igreja não é?” A sua simpatia não ficou por aqui: ligou todas as luzes e abriu a porta para ver o interior com todo o seu esplendor. Infelizmente, chegou um casal que requereu a sua atenção e por isso não conheci mais da sua história. Limitei-me a admirar a beleza das pinturas do teto e de um cofre da gloriosa Santa Quitéria, datado de 1769.

Igreja de Santa Quitéria de Meca
Regressei a Alenquer e estacionei junto ao rio, onde alguns painéis de azulejos recordam a vila de outros tempos e a ligação a Luís de Camões. Atravessei uma das pontes e subi ao primeiro andar do recém inaugurado restaurante Casta 85. O chefe João Simões veio à mesa, com o qual troquei algumas impressões. Feita a escolha, havia muito a cativar a minha atenção.

Alenquer: Presépio de Portugal

Alenquer: Presépio de Portugal

O espaço é amplo, bem iluminado e aquecido. A decoração é tão eclética que seriam necessárias várias visitas para me aperceber de todos os pormenores. No entanto, descobri mesas de pedra, de madeira e costura, paletes, arcas antigas e bancos de jardim que viraram assentos, garrafões e garrafas que se transformaram em candeeiros e instrumentos musicais decoram o espaço.
Fui entretendo a fome com uma broa de milho muito macia mas o meu bife com batata frita e grelos salteados (13,5€) foi rápido. Por sugestão, acompanhei com um vinho tinto da região, o Quinta da Chocapalha (3€). Como uma refeição nunca fica completa sem a sobremesa, o doce da casa (3,5€) foi a minha aposta.

Restaurante Casta 85

Saí do restaurante Casta 85 com a melhor das impressões: a vista privilegiada, a decoração pensada ao pormenor, o atendimento cuidado e um prato delicioso tornaram esta minha experiência muito agradável.
No Largo Espírito Santo começo a perceber porque se chama a Alenquer de Vila Presépio: um pequeno mercado de produtos regionais mostra sabores e saberes da região. Há também a tradição de decorar as mostras das lojas com presépios. Mesmo quando pensamos não ser possível, basta um pouco de imaginação para de materiais improváveis surgirem exemplos de bom gosto.

Alenquer: Presépio de Portugal

No Jardim Vaz Monteiro, um painel de azulejos recorda a ligação da terra à indústria de lanifícios. Nele estão representadas a Fábrica do Meio, a Fábrica da Romeira e da Chemina. Desta última apenas resta a fachada que avisto quando faço uma curta caminhada até à Biblioteca Municipal onde está patente uma exposição de presépios de vários pontos do país.

Jardim Vaz Monteiro
O Museu João Mário é uma visita incontornável. Para além do trabalho do pintor, que inclui representações de Paris, Bruges e Veneza, mas também um quadro de grande beleza de Vieira de Leiria, há desenhos do rei D. Carlos, D. Fernando II ou Columbano Bordalo Pinheiro.
O Antigo Real Celeiro de Alenquer alberga o Museu do Vinho no primeiro andar. Neste mês de Dezembro, o rés-do-chão está ocupado com o Doc Alenquer, um wine bar e espaço de venda de vinhos da região. Com um atendimento muito prestável, aproveitei para conhecer outros néctares da Quinta de Pancas, Quinta de D. Carlos e os vinhos Félix Rocha. Claro que não desperdicei a oportunidade de adquirir mais uns exemplares da Quinta do Monte D’Oiro.
Com mais uns presentes de Natal no saco, passei pela Torre da Couraça e Porta da Conceição e percorri um pouco do que resta do castelo de Alenquer. Com o sol a desaparecer, o frio começa a fazer-se sentir.

Castelo de Alenquer

Do lado direito fica a antiga judiaria e ao cimo da rua o edifício da Câmara Municipal. Miradouro natural por excelência, é dos lugares de eleição de Alenquer. Junto ao varandim avisto o famoso presépio, o rio, o jardim e a vila que daqui a minutos está iluminada.

Miradouro na Câmara Municipal da Alenquer

Ainda há uma réstia de luz por isso prossigo pelas ruas. Apesar da calmaria, o gosto pela tradição mantém-se e varandas e janelas exibem orgulhosas figuras decorativas, bolas reluzentes ou luzes cintilantes.

Alenquer: Presépio de Portugal

Com o pôr do sol, chega finalmente o momento pelo qual aguardei desde criança. Ver mais de perto o presépio iluminado. Solto uma lufada de ar quente para recriar o desembaciar do vidro. O espírito natalício estava diante de mim. Deixei-me contagiar por memórias que me aqueceram o coração e recordaram que os verdadeiros presentes são simples mas carregados de significado. Um momento vivido a três com a certeza de que este ano o Menino está a olhar por mim.

Alenquer: Presépio de Portugal

2 comentários:

  1. Óptimo post, ainda bem que encontrei o teu blogue. Andava a procura de info sobre Alenquer há 2 dias e nada..... Obrigada :)
    Bom fim de semana.
    Lilly
    www.lillyslifestyle.com

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