Vértice: no topo do planalto de Alijó

Há 30 anos, as Caves Transmontanas foram pioneiras a demonstrarem o potencial do terroir do planalto de Alijó. Amplitudes térmicas, solos graníticos, altitude média de 550 metros e seleção de castas constituem condições de excelência para a produção dos espumantes Vértice.


Há tempos, numa conversa e por graça, contei quantas adegas já visitei. São cerca de cinquenta, sendo que algumas já bisei. Tenho conhecido produtores, enólogos, gestores de marketing mas também pessoas que fazem disso a sua atividade mas sem qualquer interesse pelo assunto. De muitas dessas pessoas ainda me recordo dos seus rostos e nomes. E das histórias que me contaram. Mas há duas que verdadeiramente me cativaram e que podira ficar horas a ouvi-los: o Pedro Araújo da Quinta do Ameal e Celso Pereira das Caves Transmontanas. Ambos têm uma visão muito bem definida do produto que representam e os seus discursos são limpos, sem demagogias nem excessos. Sabem o valor dos seus vinhos e onde querem estar. E isso transmite uma enorme confiança para quem escuta e consome.
Celso Pereira começa por me contar a história dos espumantes Vértice que nasceram duma história de amor. João Rui Carvalho Maia, engenheiro químico na Shell, em Lisboa, apaixonou-se por uma senhora americana, a Peggy e casaram. João Maia acabou por trocar a vida da cidade pela tranquilidade do Douro onde adquiriu vinhas em Vila Flôr. De forma a melhorar a qualidade dos seus vinhos, conseguiu um estágio na Schramsberg Vineyards, em Napa Valley, um dos mais conceituados produtores de vinho espumante do mundo. Torna-se próximo de Jack Davies, dono da empresa, e convida-o a visitar Portugal e a conhecer o enorme potencial do Douro. Quando João Rui e Peggy o recebem pela primeira vez nas suas quintas, o fascínio foi imediato.
Jack Davies decide investir em Portugal e fazer algumas vinificações experimentais em três zonas: Bairrada, Vinhos Verdes e Douro. É nesta última que entra Celso Pereira em finais dos anos 80 do século passado. Começou a fazer a seleção de castas autóctones da região demarcada do Douro, da qual resultaram vinte e cinco. E foram com essas que começaram a trabalhar e a fazer micro vinificações durante cinco anos em garrafões de 25 litros. Como na altura não se plantava por casta e estava tudo misturado, marcaram-se e identificaram-se todas as videiras a uma cota acima dos 550 metros de altitude.


À boa maneira americana, não adquiriram vinhas mas fizeram contratos verbais com os agricultores, que ainda hoje mantêm.
Nestes 30 anos, foram sempre testando novas experiências: introduziram novas castas; começaram a envelhecer vinhos mais tempo e com caricas; importaram barricas usadas onde primeiro vinificaram vinhos e só depois espumantes, à semelhança dos produtores de champanhe. Apesar da identidade das Caves Transmontanas serem as castas portuguesas, acabaram por incorporar castas francesas tradicionais para produção de champanhe: Hoje têm uma produção de cerca de 2500 garrafas de Pinot Noir e 500 de Chardonnay.

Como enólogo defendo o património genético desta região, o que não invalida que não olhe para as castas francesas.
Não são muitos os funcionários que trabalham nas Caves Transmontanas a tempo inteiro. Como não têm dimensão suficiente, muito das pessoas necessárias são contratas sazonalmente, assim como os meios necessários para alguns trabalhos, como o engarrafamento e filtragem.
A entrada do armazém transforma-se na altura da vindima: coloca-se o tapete para receção das uvas, a balança e depois seguem para a câmara frigorífica onde sofrem o choque térmico. No dia seguinte são prensadas e colocadas nas cubas. São de pequenas dimensões, uma vez que cada uma corresponde a um lavrador.


Aqui estão cerca de meio milhão de garrafas, em diferentes fases de estágio e devidamente catalogadas. Assim como as barricas, todas de carvalho francês, oriundas da Borgonha, com o nome do lavrador, casta e data.

Temos dos espumantes mais caros de Portugal, com qualidade mas comunicamos espumante português. E isso lá fora não tem glamour nenhum.
Celso Pereira acredita que apesar das dificuldades se vivem tempos bons: cada vez há mais produtores, ainda que de segmento baixo e os consumidores são mais esclarecidos. Como não há cultura de se ler os rótulos, muitos desconhecem porque é que o espumante Vértice mais barato é vendido a cerca de 14€ nas grandes superfícies, ao lado de outros que custam 2€. Mas será uma questão de tempo até o paradigma se inverter.

Nós somos a primeira casa em Portugal a ter 95 pontos Parker, porque produzimos com consistência e qualidade.
Do total da sua produção, apenas exportam 25% e ainda assim, com muita dificuldade, devido ao nome e ao valor. Suiça, Suécia, Brasil, Holanda, Alemanha são alguns dos destinos dos espumantes Vértice.
Seguimos para a prova onde tivemos a companhia do enólogo Pedro Guedes. Iniciou-se com um Vértice Rosé, colheita de 2015, cujo lote é essencialmente Touriga Franca, com uma pequena percentagem de Gouveio e Malvasia Fina. É um vinho direto, sem grande complexidade, para beber socialmente, como welcome drink. Touriga Franca bem presente, muito frutado, muita fruta vermelha no nariz.
Passamos ao Vértice Cuvée, o mais comercial, que se encontra nas grandes superfícies, garrafeiras e restauração. Não é datado porque é um lote de várias colheitas. O que está em prova tem 60% da colheita de 2013, 20% da colheita de 2012 e 20% da colheita de 2011. As castas principais são a Touriga Franca, o Gouveio e Malvasia Fina. Em menor percentagem, encontramos também Rabigato, Viosinho e Códega. Esteve quatro anos em contacto com a levedura, o que lhe dá uma complexidade diferente.É um espumante mais seco e com mais acidez, o que o torna mais gastronómico. 
Celso Pereira recorda que os espumantes devem ser servidos refrescados: os mais jovens entre os 8ºC e os 10ºC; os mais velhos e complexos entre os 12ºC e 13ºC. E já que estou a aprender com os melhores, explica-me também a forma correta de se abrir uma garrafa de espumante: tira-se a película envolvente e abre-se o arame. Sem o retirar, dá-se seis voltas. o arame ajuda a tração na extração da rolha que deve sair lentamente, sem ruído nem espuma. A forma da rolha deve assemelhar-se a um cogumelo.


Subimos de nível para o Vértice Millésime, um dos meus favoritos. Uma verdadeira explosão na boca com bolha muito delicada a chamar por um leitão ou cabrito para acompanhar, com clara evidência gastronómica.


Seguiu-se um Vértice Gouveio, colheita de 2011 e degorgement de 2019. 50% feito em cuba e 50% em barrica. Um aroma incrível no nariz.
Finalizamos com um Vértice Pinot Noir, m vinho branco feito a partir de uma casta tinta. Apresenta uma bolha muito fina e elegante, com um travo de acidez E uma complexidade de frutas.


Caves Transmontanas
Rua S. Domingos nº 22
5070 Alijó
www.dourovertice.pt

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