Biblioteca Nacional: viagem ao interior da catedral dos livros


A sua fundação remonta há mais de 200 anos mas a Biblioteca Nacional de Portugal só foi instalada no atual edifício em 1969. Além da preservação do património bibliográfico nacional, promove a sua divulgação, prestando um elevado serviço à cultura portuguesa.

Biblioteca Nacional de Portugal


A primeira vez que entrei na Biblioteca Nacional foi há uns 15 anos. Durante uma aula na faculdade, o professor ficou incrédulo quando a maioria assumiu nunca lá ter entrado. De imediato interrompeu a matéria para nos dar dicas das melhores formas de chegar à informação. E com estes ensinamentos na bagagem, lá atravessei o átrio para investigar acerca do Barroco em Portugal. Não foi uma experiência da qual tenho as melhores recordações: ter de deixar os meus pertences à entrada, explicar porque queria fazer o cartão de leitor e o tempo de espera pelos livros. Boas eram as cadeiras na sala de referência, nas quais me balançava por longos minutos, aumentando de forma desmesurada o tempo de pesquisa.


Na altura estava longe de imaginar que o meu percurso profissional estaria associado à documentação e que a Biblioteca Nacional seria uma das minhas “catedrais”. Quando soube que ia abrir as portas ao público para uma visita inscrevi-me de imediato. Não podia mesmo perder!


Apesar de passar à sua frente com regularidade, continuo a sentir aquele impacto monumental. O arquiteto Porfírio Pardal Monteiro projetou esta obra ao gosto do Estado Novo, imponente. Consciente de que a arquitetura é um trabalho de equipa, com ele colaboram outros profissionais que enriqueceram o projeto: Lino António, Daciano da Costa, António Pardal Monteiro, Raul Lino ou Carlos Botelho.



Não fico indiferente às estátuas à entrada que representam quatro importantes autores portugueses: Fernão Lopes, Gil Vicente, Eça de Queirós e Luís de Camões. Mas entrar no átrio principal da Biblioteca Nacional é sempre emocionante.


O melhor deste tipo de eventos é que nos permitem aceder a lugares de acesso restrito. Assim que comecei a percorrer o corredor, senti-me logo uma privilegiada: vi o anfiteatro, a sala de reuniões, que ainda mantém os cortinados de origem e o gabinete da direção.
A atual sala de conferências já foi um restaurante e livraria e foi aqui que adquiri alguns dos meus livros técnicos. Desconhecia que as janelas têm as primeiras caixilharias de alumínio em Portugal, que na altura conferiam maior durabilidade que a madeira.


E como era inevitável, a sala de leitura. Ao fundo fica a grande tapeçaria de Portalegre, da autoria de Guilherme Camarinha, que segundo me explicaram, é a maior que existe. O que gostei foi de recordar as janelas para onde costumava olhar sempre que fazia uma pausa no estudo. O dia estava de sol e fui invadida de boas memórias.


Sala de leitura; Biblioteca Nacional de Portugal


A visita prosseguiu para o local de receção dos livros, início de todo o circuito documental. Dos onze livros obrigatórios para depósito legal, apenas ficam dois, sendo os restantes distribuídos por outras bibliotecas do país. Depois são catalogados, classificados e indexados.


Biblioteca Nacional de Portugal


A Biblioteca Nacional também recebe coleções particulares e estas estão sujeitas a outros trâmites: primeiro passam pela câmara de expurgo e só depois são tratadas documentalmente.


Mas como acontece muitas vezes, o melhor estava para vir. Passei pela zona de encadernação onde vi os instrumentos de trabalho, a sala de restauro, com as mesas de luz e a sala de preparação para conservação de grandes formatos. Havia alguns livros em cima das mesas de trabalho que aproveitei para espreitar e me deliciar.



Biblioteca Nacional de Portugal


Biblioteca Nacional de Portugal


Biblioteca Nacional de Portugal


Enquanto apaixonada por livros e documentação, esta visita já me tinha dado alegrias suficientes: para além da contextualização de todo o projeto arquitectónico, tinha acabado de passar em zonas restritas e visto livros com centenas de anos. Estava realmente feliz! O que desconhecia é que iria subir à torre dos livros e conhecer os depósitos. Mais de uma dezena de pisos com 149 metros de comprimento por 15 metros de largura, cada um com 200 a 400 mil livros, o que equivale a uma biblioteca universitária. As prateleiras estão apoiadas umas em cima das outras e são elas que sustentam o peso dos livros. E depois há todo um cuidado com as condições de segurança e preservação: temperatura e humidade controladas, portas que se fecham automaticamente em caso de incêndio, houve uma renovação da instalação elétrica e um grande investimento em equipamentos de tratamento do ar.


Biblioteca Nacional de Portugal


Biblioteca Nacional de Portugal


Afastei-me um pouco do grupo e percorri os vários “comboios”, nome dado aos pilares na gíria da Biblioteca Nacional. Pouco me importava a área temática, o tamanho e as cores: queria apenas guardar aquele momento especial.


Biblioteca Nacional de Portugal
Campo Grande, 83
1749-081 Lisboa

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