Hotel Schloss Fuschl: onde a beleza encontra a serenidade

Debruçado sobre as águas verde esmeralda do lago Fuschl, o Hotel Schloss Fuschl, a Luxury Collection Resort & Spa é um encontro com a beleza e a serenidade.


Nas minhas viagens tenho sempre a impressão de que me falta tempo. Tempo para não ter de fazer escolhas, tempo para sentir os lugares, tempo para guardar cada momento vivido. Mas na Áustria senti que o tempo parecia ser em excesso, que os dias não se renovavam. E por uma simples razão: tinha pressa em chegar aos lagos. Aterrei em Viena, visitei muitos lugares únicos (como o vale de Wachau) mas com alguma ansiedade por sentir a serenidade do azul das águas.
Desta vez foi mais moroso encontrar o local perfeito para ficar. Existe alguma oferta de alojamento junto dos lagos mas nenhuma parecia cumprir os pré-requisitos que procuro: um lugar com historia, identidade única e onde cada hóspede se sinta especial. O Hotel Schloss Fuschl acabou por se revelar a minha pérola negra.
Saímos da via principal e descemos uma estrada estreita mas alcatroada. Ninguém diria que é o acesso a um dos hotéis mais exclusivos da Áustria, já que passamos por casas de habitação, com as suas pilhas de lenha a aguardarem o frio sob o olhar indiferente das vacas. A entrada até é bastante discreta e não fosse a prontidão do serviço de valet parking, não ficaria assim tão impressionada. Mas é logo no check-in que um dos meus pré-requisitos é cumprido.
-Como se pronuncia o seu nome? - perguntam-me.
-Eva. - respondi sem perceber.
-É que também sou Eva.
Olhei para a placa na lapela e abrimos um enorme sorriso. Talvez na Áustria, como em Portugal, também não existam muitas Evas.


A primeira coisa que fiz assim que entrei no quarto foi abrir a janela. Diante de mim, a torre inicial que data de 1450 e que serviu de morada ao arcebispo de Salzburgo. Desde que se tornou hotel em meados do século XX já recebeu muitas pessoas famosas. Mas o que mais se destaca é que aqui foram filmadas algumas cenas do filme Sissi, realizado em 1955 por Ernst Marischka e que catapultou Romy Schneider para o estrelato. Em homenagem existe uma suite com o seu nome e um pequeno museu.


Ainda nem tinha tido tempo de abrir as malas e já me estavam a bater à porta para me presentearem com um delicioso bolo de chocolate que não hesitei logo em provar.
Voltei à receção para obter mais informações dos percursos pedestres à volta do lago Fuschl e as pessoas voltaram a ser de tal forma prestáveis que se lhes tivesse pedido para me acompanharem de forma a não me perder o teriam feito.
Estava uma tarde muito agradável de outono. Claro que eu não dispensei o meu casaco mas achei extraordinário encontrar pessoas a apanhar banhos de sol em biquini no deck junto ao lago. Passei junto das villas privadas com uma vista incrível sobre as águas calmas, onde algumas pessoas praticavam stand up paddle. Imagino como algo tão simples como uma prancha e um remo proporcionam uma experiência tão boa. O hotel disponibiliza também pequenos barcos de madeira para passeios no lago.



Além de ser conhecido por ter das águas mais cristalinas da Áustria, contempla também uma diversidade de peixes, desde lúcios, tencas, carpas, enguias, cabozes e trutas. O restaurante Schloss Fuschl Fischerei é apenas dedicado ao peixe. Num ambiente muito informal é possível comer sobretudo a truta fumada ou uma sopa de peixe, sempre com uma vista incrível. 
A partir daqui, a surpresa e algum assombro foi sempre crescendo. O outono é sem dúvida a minha estação favorita e caminhar sobre um tapete de folhas ocres, sentir o cheiro das árvores, ver os cogumelos brotarem aqui e além, parar para ouvir as vacas pastar ou escutar o salto ocasional de um peixe. Não sei quanto caminhei mas parei junto de um pequeno junco. Ao fundo avistei a antiga torre, hoje transformada em verdadeira construtora de memórias.






Reservei o jantar para o restaurante principal do hotel, que serve cozinha austríaca com o refinamento da cozinha francesa. É uma sala bonita, a meia luz e com enormes janelas. À semelhança de outros restaurantes, também as suas funcionários usam o dirndl. Apesar de estarem pouquíssimas mesas ocupadas, todos falam muito baixo, criando um ambiente ainda mais reservado.
Não podia deixar de experimentar a truta, aqui servida em cama de raviolis e legumes e com um crocante de presunto. Como pré-sobremesa, e com os cumprimentos do chef, foi-nos trazido um pequeno bolo de chocolate que foi uma verdadeira gulodice. Aliás, num só dia, já tinha sido agraciada com dois mas ainda não sabia que esta relação apenas se estava a iniciar.
Para terminar a refeição escolhi um Salzburger nockerln. É das sobremesa austríacas mais delicadas, já que um passo em falso e o resultado é desastroso. Feito a partir de ovos, açúcar, extrato de baunilha e muito pouca farinha, assemelha-se a um soufflé. Assim que a cobertura fica acastanhada, retira-se imediatamente do forno e serve-se polvilhado de icing sugar e acompanhado de compota de frutos vermelhos, o que lhe corta a doçura e confere alguma acidez. Dada a sua quantidade, é perfeita para partilhar.



Acordei bem cedo. É que uma das maravilhas deste lugar é também a sua envolvência e a quantidade de experiências que permite. Uma delas é ver o nascer do sol junto do Schafberg, uma montanha com mais de 1500 metros de altitude e que é qualquer coisa de vertiginoso. Eu não tive coragem de me aventurar comboio acima mas sentir a luz imensa surgir bem diante dos meus olhos não podia deixar de viver.



A sala que ontem vi a meia luz durante o jantar transformou-se em elegância. As janelas que há poucas horas apenas mostravam o breu da noite, deixam agora ver a beleza de uma das paisagens mais bonitas da Áustria.
Além dos funcionários que asseguram que nada falta, existe sempre um senhor que todas as manhãs nos recebe. Ele veste-se como o Paul Bocuse mas as suas feições lembram-me Patrick Stewart da série Star Trek. E de forma discreta mais presente vai-nos sugerindo o que comer. O problema é que tudo é muito bom... Eu acabei por me enamorar por um bolo de chocolate, muito semelhante à Sachertorte. O seu aspeto é um pouco mais rústico mas muito mais guloso. A par do pequeno almoço do The Yeatman, esta foi das experiências matinais mais extraordinárias.
Dada a sua localização, a cerca de 20 quilómetros de Salzburgo e a uma curta distância das principais atrações (St. Gilgen, Strobl, Sankt Wolfgang e Hallstatt), é um excelente opção como ponto de partida para conhecer a região. O plano diário consistia em sair de manhã para conhecer algumas povoações e regressar no fim de almoço para caminhar. A volta completa ao lago demora cerca de 4 horas e a paisagem é tão diversa que num curto espaço de tempo atravessámos vários cenários: praia fluvial, montanha, floresta cerrada, campo de futebol, quintas privadas, bares e restaurantes e casas particulares. Em vários pontos criaram-se parques de estacionamento e locais para descansar à beira dos percursos, com mesas de piquenique, sanitários, caixotes do lixo ou apenas um simples banco.







Bem perto do hotel fica dos locais mais apetecíveis: a Hofer Naturbadestrand, uma praia com um enorme pontão sobre as águas cristalinas e com um conjunto de infraestruturas de apoio. Uma vez mais, em pleno outono, vi gente em roupa interior (nem eram calções de banho), deitados sobre as tábuas, simplesmente a armazenar vitamina D.



Na última noite reservei mesa para o Restaurante Jagdhof no Sheraton Fuschlsee-Salzburg. Na receção perguntei se a estrada tinha iluminação porque gostaria de ir a pé, dado a distância ser tão curta.
-Não há necessidade. O nosso hotel dispõe de um shuttle. Apenas tem de nos indicar a hora a que pretende o transporte.
E de facto à hora marcada o nosso transporte estava à porta: um carro, que mais parecia uma pequena limusina, apenas para subirmos a rua.
O Hotel Schloss Fuschl, a Luxury Collection Resort & Spa, que começou por ser a morada do arcebispo de Salzburgo, é hoje dos hotéis mais bonitos do mundo.

Schloss Fuschl, a Luxury Collection Resort & Spa
Schloss-Straße 19, 5322 Hof bei Salzburg, 5322 Austria

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